quinta-feira, 3 de abril de 2014

Enfim paramos para discutir como são feitos os partos neste País

Meus queridos leitores, boa noite!
O caso em questão causou muita revolta no universo feminino, e obviamente abriu espaço para um tipo de debate que não ocorre com frequência pois o fato é visto como um mero detalhe.
Na hora de dar a luz quem deve decidir sobre como será o parto: A mãe? O médico? O histórico da paciente? Claro que existe casos e casos, mas o que vimos neste especificamente foi um abuso de poder, não entendo por que tantas mulheres que já perderam seus bebês esperando uma autorização de transferência  hospitalar fazendo com que o bebê passe da hora de nascer por exemplo, e não teve seu direito respeitado, não teve a preocupação do médico voltada para ela. Enfim é infindável o numero de casos em que podemos citar onde se ocorreu todo tipo de injustiça  e de repente me pegam uma coitada como bola da vez.
Espero que algo mude depois disso, pois a meu ver se a paciente teve toda a gestação tranquila e saudável, tem todas as condições de ter um parto normal por que não o fazem?
Como mulher e mãe também posso dizer que fui vitima de abuso pois me foi feito um parto cesariana sem necessidade. Meu filho estava pronto pra nascer normal visto que cheguei no hospital com nove dedos de dilatação ou seja faltava muito pouco. Como justificativa  me disseram que ele havia feito coco e que os obriga a agir desta forma, porém por que deixarão que uma situação que tinha tudo pra ser simples e rápida se torna-se o que foi? Uma cesariana sem meu consentimento.
Hoje estou grávida novamente e após seis anos já experiente não vou permitir que façam novamente.
Eu conheço meu corpo e sei que tenho as condições de trazer ao mundo um bebê saudável e pelas vias normais.
Pri
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texto de: Marco Antônio Araújo
De cara, levei um choque quando li a história da mãe que foi obrigada pela Justiça (e policiais) a fazer uma cesariana contra sua vontade. Aos poucos, minha indignação foi atenuada por diversos argumentos que vieram à tona com o debate sobre as responsabilidades e os limites que o Estado deve manter quando vidas estão em jogo.
Pessoalmente, sou daqueles que acha o corpo humano inviolável, tanto para torturadores quanto para médicos. Mas temos leis que consideram crimes tanto o suicídio quanto a eutanásia, isso sem falar no aborto. Lei é lei — e juízes e policiais não estão na sociedade para questioná-la (ao menos durante o horário de expediente).
Do meu ponto de vista intelectual está tudo resolvido. Só não sei se teria a mesma convicção se eu estivesse no lugar do juiz que recebeu o pedido do hospital, que alegava "risco iminente de morte" da mãe e da criança. Os laudos médicos eram aparentemente indiscutíveis, e o tempo era mínimo para se tomar uma decisão.
O que merece destaque nesse caso é algo incomum em nosso País: não houve omissão em nenhuma das etapas que envolveram as instâncias públicas. Para o bem ou para o mal, a médica não lavou as mãos, o hospital deu suporte jurídico, o juiz agiu de pronto, o promotor público estava presente, a polícia cumpriu seu papel. Tudo isso para cuidar de uma anônima e humilde cidadã de Torres, distante quase 200 km da capital Porto Alegre.
Convenhamos, isso não é pouco. Na verdade, é raro. Tudo se complicou porque o sistema de saúde brasileiro, inclusive o privado, tem como prática velada a violência obstétrica em diversos níveis de negligência e crueldade. Parto normal no Brasil é um luxo, quase uma anormalidade. Somos campeões mundiais em cesáreas — um procedimento invasivo, doloroso, potencialmente traumático e que deveria ser reservado para casos excepcionais.
Evidente também que houve excessos nos procedimentos que levaram ao parto forçado. Tudo indica que os profissionais do hospital se exaltaram a ponto de fazerem discursos inadequados contra a parturiente, acusada de estar sendo irresponsável, egoísta e ignorante. Por mais razão que os médicos tivessem, um parto é algo sagrado, a ser feito de forma serena, sem arroubos. Algum perverso sentimento de vitória (ou vingança) tomou conta da equipe médica. Um gesto de responsabilidade ganhou contornos de arrogância, algo bem típico de nossos “doutores”.
Outro aspecto altamente positivo é o debate que se impôs. Se foi um ato de violência ou de responsabilidade, se roubaram o direito ao parto normal ou garantiram a vida da mãe e do bebe, isso nem eu nem você temos condições objetivas de julgar com precisão. O fato a ser comemorado, graças à repercussão, é de que finalmente o País parou para discutir como nascem nossas crianças. Violência obstétrica: você ainda vai falar muito sobre isso.

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