sábado, 28 de setembro de 2013

O culto da incultura

Escrito por Cesar Alberto Ranquetat Júnior

 
Maman”, escultura da artista plástica Louise Bourgeois, feita em bronze e instalada na parte exterior do Museu Guggenheim Bilbao, na cidade de Bilbao, Espanha.


 Bárbaros intramuros… É mister apontá-los, e apontá-los até dentro de nós, porque em nossos momentos de fraqueza e desfalecimento somos bárbaros também. (Mário Ferreira dos Santos – A invasão vertical dos bárbaros).
 
Para além dos problemas sociais, econômicos e políticos que assolam a sociedade brasileira, talvez o mais grave seja a extrema e terrificante degradação cultural que impera nos mais diversos âmbitos da vida coletiva. É ela que está na raiz de nossas patologias e de nossa desordem social e política. Presenciamos o total aniquilamento da alta cultura. Dissemina-se por toda parte uma falsa cultura massificada, superficial, mero entretenimento e diversão que não eleva o espírito humano.

Somos bombardeados diariamente por programas televisivos mórbidos e vulgares, por músicas de péssima qualidade, assim como por revistas e jornais que estimulam, por meio de suas notícias e reportagens, os aspectos mais baixos, e perversos da existência. Além disso, no ambiente dito intelectual pululam as análises sociais e políticas superficiais, rasteiras e por demais ideologizadas. Pseudo-intelectuais, “filodoxos”, perdem-se no vício do abstratismo e do pedantismo, incapazes, assim, de examinar e compreender com clareza e objetividade a realidade de nosso tempo. Prolifera uma subliteratura marcada pela exploração de temáticas insípidas, medíocres, que exprime unicamente as dimensões mais abjetas e vis da personalidade humana.  No cinema e nas artes plásticas exalta-se o feio, o bizarro, o disforme e o grotesco.

Há algumas décadas, tínhamos nas ciências humanas e sociais intelectuais de peso como Gilberto Freyre e Sergio Buarque de Holanda. Na filosofia, Miguel Reale, Vicente Ferreira da Silva, Mário Ferreira dos Santos e Henrique de Lima Vaz. Na literatura Graciliano Ramos, Érico Veríssimo e tantos outros. Na poesia, Manuel Bandeira, Murilo Mendes e Carlos Drummond de Andrade. No cinema, Glauber Rocha. Poderia citar aqui muitos outros artistas e pensadores de vulto. O fato é que hoje nossa cultura está esvaziada, empobrecida  e doente. Quem são atualmente nossos grandes escritores, intelectuais, poetas, cantores e artistas? Onde encontram-se os romancistas e artistas capazes de exprimir por meio da linguagem poética e ficcional o que há de belo e nobre na vida humana?

A cultura não é um ornamento, um mero adorno estético, a “cereja do bolo”, mas é ela a alma de uma sociedade, a bússola que orienta a vida dos indivíduos e das coletividades. Conforme a lição do filósofo Ortega y Gasset, a cultura é o plano da vida, o guia de caminhos pela selva da existência. É o conjunto de idéias, crenças e valores que salva do naufrágio vital, permitindo o homem viver sem que sua vida seja uma tragédia sem sentido. Uma sociedade ou um indivíduo inculto não vive uma vida plenamente humana, não vive uma vida significativa, apenas sobrevive satisfazendo suas necessidades físicas básicas. 

É a cultura que dá à vida individual e coletiva um sentido mais elevado, possibilitando que, não obstante nossas limitações, tenhamos acesso ao mundo das idéias, dos valores, das tradições e dos símbolos de conteúdo universal e supra-temporal.

Ora, é a cultura que refina a sensibilidade e a nossa visão do mundo, aperfeiçoa a mente e a imaginação, emancipando o homem do imediatismo. O homem dotado de cultura distancia-se do provincianismo, alça vôos mais altos, transcende os pontos de vista de seu tempo e de sua época. Entra em contato com um complexo de idéias perenes e imorredouras, com as “coisas permanentes” como asseverava o poeta e crítico literário T. S. Eliot. Conhecimentos permanentes que não são elucubração estéril, mas tesouros intelectuais que enriquecem e estruturam a personalidade humana, dando a ela maior amplitude, profundidade e densidade.

Precisamos nos libertar do culto da incultura, da valorização da fealdade, da exaltação do lado sombrio, irracional, mesquinho e sórdido da existência que vem devastando a sociedade brasileira. Caso não realizemos a indispensável e iminente tarefa de soerguimento cultural de nossa nação, condenaremos as próximas gerações à barbárie, a viver uma vida de zumbis, estupidificados e lobotomizados em decorrência de um ambiente social hostil à beleza e à verdade.

Dize-me com quem andas...

Escrito por Percival Puggina 




A despeito do fingimento da mídia brasileira, os órgãos de segurança dos EUA estão perfeitamente a par de tudo. Sabem que o partido que nos governa integra o Foro de São Paulo.


Não ouvi a fala da presidente Dilma na ONU. Espero que não tenha iniciado o discurso com aquele seu horroroso refrão: "Eu queria dizer para vocês...". Aliás, é inacreditável que nenhum assessor ainda lhe tenha dito que se ela está de pé, se tem a intenção de falar, se está com o microfone na mão... basta falar. Não precisa dizer que quer dizer. Isso a gente já sabe.

Pois bem, não ouvi o discurso, mas li a respeito. Pelo resumo do que li, a presidente puxou as orelhas de Obama em virtude da espionagem que a ANS vem fazendo na nossa privacidade. E soube, também, que Obama, no seu turno de falar, puxou as dela com seu silêncio sobre o assunto. Por outro lado, assisti o inteiro relato que o ministro José Eduardo Cardozo fez durante a audiência pública a que foi convidado pela Câmara dos Deputados na última terça-feira.

Segundo contou, já ocorreram as duas reuniões que haviam sido acertadas entre Brasil e EUA. A primeira delas, de natureza técnica, foi inteiramente inútil porque quando os técnicos brasileiros perguntavam sobre o que foi feito e como foi feito, os norte-americanos afirmavam que eram questões de segurança interna que não podiam ser reveladas. A reunião política, posterior, à qual o próprio ministro compareceu, começou e terminou com evasivas e lero-lero tipo "vamos tomar providências" e "voltaremos a conversar sobre esse assunto", etc. e tal. Para usar com propriedade uma palavra da moda - "enrolation".
         
Ficou evidente que o governo norte-americano não têm a menor intenção de conversar sobre sua bisbilhotice e que Dona Dilma, com o alvoroço que causou, acabou se enfiando numa saia justa. Descobriu, talvez, que os EUA não são como o Brasil. Ela falou para surdos, engrossou o tom contra quem não lhe deu atenção. O silêncio de Obama e a falta de repercussão de suas palavras no plenário foram uma lição para a vida. Agora, só lhe resta queixar-se a Bento XVI que no papa Francisco ela já deu uma canseira.

Essa espionagem, vista na perspectiva dos interesses brasileiros, é uma violência e um profundo desrespeito à nossa soberania e aos bons costumes nas relações entre os Estados nacionais. No entanto, a espionagem é um mau costume que integra de modo permanente a história dos povos. Tolo é quem se deixa surpreender e não se prepara para evitá-la. A contra-espionagem está para espionagem assim como a polícia está para o bandido.

Na perspectiva norte-americana, a situação se apresenta de modo diferente. O partido que hegemoniza o poder no Brasil integra o Foro de São Paulo (FSP), organismo político que articula a esquerda continental, embora a imprensa brasileira teime em fazer de conta que não existe. Nossa imprensa sabe, perfeitamente, que esse poderoso órgão, "criado para restabelecer na América Latina o que foi perdido no Leste Europeu", se reúne uma vez por ano para definir objetivos e estratégias. Sabe que os membros do FSP, partindo do zero em 1991, já governam 16 países do continente. Mas o nosso jornalismo não se interessa pela organização nem quando seus membros se reúnem em São Paulo. A imprensa sabe, mas faz questão de que você, leitor, não saiba.

A despeito do fingimento da mídia brasileira, os órgãos de segurança dos EUA estão perfeitamente a par de tudo. Sabem que o partido que nos governa integra o FSP. Sabe que Lula foi seu fundador, junto com Fidel Castro. Sabe que entre partidos organizados, socialistas e comunistas, também participam do Foro grupos guerrilheiros como o MIR chileno e as FARC colombianas. Sabe o quanto as convicções políticas de todo o grupo são anti-americanas. Reconhecem o peso do Brasil no contexto regional e sabem que o governo brasileiro não consegue esconder sua simpatia e afeição a quem quer que, na cena política mundial, se revele adversário dos EUA, em especial os atuais governos de Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador, Peru, Nicarágua, Argentina, Uruguai, Irã e Palestina. Será preciso mais para motivar os ianques, especialmente em tempos nos quais o país se percebe vulnerável dentro do próprio território? Se o governo brasileiro não quiser ser espionado, que se acautele. Afinal, até eu gostaria de saber o que eles andam tramando.