quarta-feira, 26 de junho de 2013

Democracia: modos de usar

Pra quem acredita que vivemos num País democrático eis um texto interessante que pode servi de base para rever os conceitos.
ByPri 






A CANAILLE toma as ruas, faz terrorismo guarani-kaiowá e pede que o estado seja democrático e conceda passe-livre. O estado democrático, por sua vez, eleito pelos mesmos sacripantas que hoje tomam as ruas, faz valer o poder coercitivo supostamente assinado por vocês e por nós outros naquele suspeitíssimo negócio que chamam de ‘contrato social’ (nunca vi) e solta os cavalos e desce os porretes. A imprensa mainstream – uns poucos contra, outros muitos a favor da balbúrdia – denuncia que o estado democrático não foi democrático de verdade quando soltou os cavalos e desceu os porretes. E cobra democracia. E nós outros sabemos, ou deveríamos saber, que pedir democracia é pedir para apanhar.

Você divide seu voto por, quantos?, cento e não sei quantos milhões. Seu voto vale zerozerozerozerozero-etc-um. Não vale nada, enfim. Daí você pede, chora, sapateia: passe livre, direito de ser vadia e não ser tratada como puta, direito de ser puta e não ser tratada como vadia, divórcio, casamento gay, divórcio gay, aborto, adoção gay, meia entrada pros, aspas, estudantes, lei não sei das quantas que garanta que a meia entrada dos, aspas, estudantes não atrapalhe o orçamento dos artistas (com ou sem aspas), e bolsa isso e bolsa aquilo, que o estado permita, que o estado proíba, que o estado ao menos prometa que vai pensar, que o estado discuta relação e tudo o mais que lhe der na veneta. Democracia é realismo fantástico.

O estado democrático faz o que? Atende seus pedidos. Daquele jeito dele, sabe-se bem, mas de algum modo ele atende. E seus representantes dizem na tv que você é um cidadão e tem de votar. O cidadão acredita piamente nos milagres do sufrágio universal e digita os números do celerado da vez e da camarilha correspondente. O celerado da vez, para ser eleito, promete aquelas coisas todas que já se sabe quais são, mais algumas outras que nem sequer foram cogitadas, e diz que pretende ‘aprofundar a democracia’. E você fica feliz.

Mas aqui começam os problemas. O estado, para atender às demandas, meu caro eleitor, manda mais e mais em você e se mete mais e mais na sua vida. E não porque ele seja necessariamente mau. Mas é sua natureza, seu modus operandi: para cumprir o que se espera o estado tem de crescer, tem de ampliar seu campo de atuação e dilatar e estender o alcance de suas competências.

Ele passa a ter mais poder – que lhe foi outorgado – justamente porque você, que o sustenta, quer ter mais poder. O estado tira mais do seu dinheiro, diz o que é moral você fazer ou deixar de fazer, regulamenta cada ato, cada falta de ato. Se a bancada evangélica ou cristã é maior, durante quatro, oito, doze anos veremos uma atuação política toda cheia de preocupações com a moral e os bons costumes (farisaica). Mas os cristãos, ficamos felizes. O problema é que quatro, oito, doze anos mais tarde tipinhos inacreditáveis como Jean Wyllys chegam ao poder – legitimamente, considerado o sistema representativo – e temos então a bancada gay, o discurso gay, as preocupações gays.

Se o estado serve para alguma coisa (e não estou certo sobre), serve precisamente para equalizar as relações entre os cidadãos – à parte todo o peso de suas diferenças – perante a lei e o direito. Se o estado serve para alguma coisa, serve como arcabouço jurídico que garanta a isonomia, a equanimidade nos julgamentos.

Esperar do estado muito mais do que isso – salvo em questões emergenciais – é esperar que os pretendidos direitos e mimos que você exige compensem as restrições progressivas à sua liberdade. Nunca compensam. E a quem você vai reclamar quando o estado suprimir suas liberdades (voltar ao início do texto: ‘faz valer o poder coercitivo etc’)? Ao estado novamente, para que seja mais democrático e mais isso e mais aquilo. Samsara.

Precisamos de menos estado. Precisamos de menos democracia – muito menos democracia – e mais civilização. Democracia é só um arranjo muito vagabundo que de uns tempos pra cá nós enfiamos na cabeça que é a única coisa que funciona. E não é. Mas dá preguiça pensar, não é mesmo? Democracia é passe-livre. Mas também é gás-pimenta.

sábado, 22 de junho de 2013

Enquanto isso no Ex-País do Futebol...

Estimados leitores antes de mais nada saibam que sou grata a todos vocês que por aqui passam e prestigiam este blog!
Agora vamos vamos falar dos últimos acontecimentos:
Primeiro quero dizer que na semana passada eu pude acompanhar de perto um grupo de manifestantes  e  pude ter a certeza  que finalmente as pessoas estão acordando e mesmo sem saber exatamente que rumo toda esta situação vai tomar ao menos estão clamando pelos seus direitos. Eu não imaginei que isto fosse acontecer da forma que foi e com a proporção que um simples manifesto por conta do aumento do transporte se torna-se algo maior. Por isso eu digo Até que Enfim,finalmente o povo brasileiro resolveu se unir e ao menos por algumas horas falar a mesma linguá. Língua estas que juntas clamaram por tudo que é de direito depois de anos seguidos de manipulação, de roubos e altos impostos o povo finalmente acordou.
Ainda a muito pra se manifestar, pois como já foi dito vai muito além de 0,20 centavos.A jornada apenas começou e eu realmente espero que não pare por aqui, a muito tempo ouvia as pessoas reclamando entre si e sempre me perguntei: Quando será que as pessoas iram parar de reclamar e ir pra cima dos canalhas que fazem  deste Pais ser a pobreza que é? E agora tive o prazer de ver isto acontecer,por isso eu digo tem que ir pra cima de todos eles bando de safados,corruptos,mentirosos.Os absurdos são tantos que chega dar nojo .
Outro dia  li que a Dilma assinou um texto dando direito ao Bolsa -Copa para os servidores federais e os oficiais das Forças Armadas assistirem aos jogos da Copa das Confederações,já não bastasse o custo de toda essa palhaçada bancada pelo povo ainda vemos os parlamentares passeando as custas de quem? Do povo claro, ora essa quem mais pagaria está conta?E ainda dizem que sou anti-patriota a verdade é que não se trata de ser ´patriota ou não pois o que realmente importa é que estamos todos juntos no mesmo barco rumo a um destino incerto e a única certeza que temos é a de que se as pessoas não começarem a se mobilizar nada vai mudar.

Tem muita gente por ai falando asneira como por exemplo foi o Jogador Ronaldo com sua frase infeliz referindo-se ao fato de que não se faz Copa com Hospitais. Veja o Vídeo deste Pai indignado  que contrasta com as palavras alienadas do Ronaldo. E sem deixar de mencionar as palavras fatídicas dita pelo Pelé  que aborreceram muitos internautas inclusive a mim.



 É lamentável o ponto que algumas pessoas chegam por conta do seu egoismo e pela falta de noção do que acontece com as pessoas ao redor. Existe milhares de pessoas que assim como o Ronaldo  e o Pelé pensam que o mundo se resume em suas atividades medíocres como se não existisse mais nada além de suas vidas patéticas e estereotipadas. E quanto a este Pai só resto o lamento e a dor de saber que todo o dinheiro que foi gasto com a Copa serviria para dar melhores condições de vida pra sua filha, que assim como muitas outras crianças são vitimas do Descaso, da  Impunidade e Desrespeito.

Pri

terça-feira, 11 de junho de 2013

Turismo da miséria virou negócio nos últimos vinte anos.

Lucas Mendes: Do Bronx à Rocinha, via Dharavi

 

"Não vá ao Rio. Cidade do crime", você vê na internet. "Cidade de estupros de estrangeiras, de bandidos adolescentes impunes." A mensagem é longa e detalhada.
Verdade? Quem manda as mensagens? Não importa. O Rio assusta. São Paulo também. BH também. O nordeste mais ainda. Brasília? Capital do sequestro. O Sul, abaixo de São Paulo, que era segurança maravilha, hoje é destaque nas manchetes do crime.

Neste fim de semana, em Nova York, uma campeã na redução de crimes violentos, foi batido um recorde negativo. Vinte e cinco pessoas baleadas com seis mortes em menos de 48 horas, entre eles uma menina, Tutu, de 11 anos, ferida no pescoço na porta da casa dela durante um tiroteio de gangues. A bala foi parar na espinha. Tutu está paralítica.

Sara, outra adolescente, atingida em outro tiroteio, sábado, no bairro do Bronx, hoje é uma heroína dos jornais. Quando viu que todos correram e o carrinho da criança ficou abandonado na calçada, ela saiu em socorro e foi baleada. Ela se recupera de um ferimento na perna.

Apesar do número recordista de violência armada em muitos anos, maio mantém a escrita de violência em queda. Desde 1964, é o maio menos sangrento de Nova York. Nova York ainda tem crédito no banco da segurança.

A manchete maior na queda do crime vem de Chicago, que liderava o país em guerras de gangues. Queda de 35% desde janeiro. A ação da polícia começou com a morte de uma adolescente num tiroteio de gangues. Haydee Penbertom, de 15 anos, uma estudante brilhante, boa filha, sem conexões com bandidos.

Os protestos dos vizinhos mexeram com a polícia que, numa operação parecida com as UPPs, despachou 400 policiais para ocupar as vinte áreas mais violentas da cidade. Além do número, o impacto das câmeras pela cidade foi decisivo.

Nenhum bairro americano se compara ao Bronx, de Nova York, em fama de violência, destruição e decadência. No passado. Outras cidades podem ser mais perigosas, mas em Nova York tudo é multiplicado pela mídia. Mais da metade do Bronx foi destruída em incêndios criminosos. Não é exagero. Mas quando uma companhia de turismo lançou a excursão "venha conhecer o verdadeiro Bronx", inspirado em tours das favelas do Brasil, Índia e África do Sul, o ônibus com os turistas foi parado, expulso do bairro e as excursões foram canceladas.

Até agora ninguém reclamou da falta de liberdade de expressão.
O ônibus deu azar. Chegou no Bronx no dia de uma festa popular em que a população comia, bebia e festejava as conquistas culturais e a história do bairro.

Por pouco, os turistas não tiveram um verdadeiro momento Forte Apache, Bronx, o filme que chocou o mundo e transformou o Bronx num símbolo da decadência do capitalismo.
Naquela época, os americanos não queriam esconder a vergonha do bairro. Pelo contrário. Em 77, o presidente Carter percorreu o Bronx para mostrar as feridas sociais. Três anos depois, o rival Ronald Reagan voltou lá para mostrar que Carter não tinha mudado nada.

A tragédia continuava do mesmo tamanho. Virou material de propaganda na campanha política: "Veja a miséria do Bronx". Hoje, os moradores querem esconder o passado e promover o futuro.
O Bronx melhorou, e muito. Hotéis de luxo estão em construção, centenas de lojas, entre elas cadeias finas como Macy's e Target. Trump constrói um campo de golfe com padrão internacional. Para os líderes do Bronx, é urgente separar as palavras "Bronx", "incêndio" e "drogas". Mas ainda há pobreza e a rica história da violência.

Só fui à Rocinha uma vez, num evento promovido pela BBC. A intenção era mostrar um bairro em recuperação econômica e social. Foi em meados de 90 e foi tranquilo.

Muito antes, quando era guia, quase fui lá a pedido de um casal de turistas franceses. Tinha acabado de chegar ao Rio, mal sabia o que era zona sul ou zona norte, precisava de dinheiro para pagar o curso e as contas. Pintou uma vaga de guia de turismo da empresa USE. Eu falava inglês, o francês não era ruim e queria conhecer o Rio. Não escondi minha ignorância, mas isso não era problema, me explicou o chefe.

"Você passa uma semana fazendo os tours com outros guias, estuda um pouco e pronto."
Foi uma boa experiência, mas não havia excursão para as favelas do Rio. Quando passei o pedido do casal francês para o diretor, ele respondeu: "Turismo na favela? Nem pensar".

Cheguei a fazer uma conexão na Rocinha para uma viagem de táxi, mas o casal já tinha feito compromisso para subir outra serra e passar o dia com nossa família imperial.

Turismo da miséria virou negócio nos últimos vinte anos. A empresa Reality Tours and Travel fatura nas excursões de Dharavi, em Mumbai, cenário do filme Slumdog Millionaire. "Favela 5 estrelas", diz o promotor das excursões, "com 700 mil residentes, 11 mil comerciantes e , entre os miseráveis, um punhado de milionários". Não tem gangues, mas tem estupradores.

Qualquer turista vítima de crime no Brasil pré-Copa e pré-Olimpíada, vai ser notícia de destaque. A americana estuprada no ônibus no Rio e o alemão baleado na Rocinha vão provocar outros alertas como o "não vá ao Rio do crime", mas o que mais afasta turistas do Brasil ainda é a combinação preço-bagunça.